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PADDINGTON 2


Nota 7,0 Segunda aventura de famoso ursinho inglês preserva e realça qualidades da original


Após o sucesso de As Aventuras de Paddington e com o respaldo do material literário que o originou, era apenas questão de tempo para o público ser presenteado com novas aventuras e confusões do carismático ursinho comedor de marmelada. Paddington 2 ganha agilidade ao não ter a necessidade de apresentar minuciosamente o protagonista e os Brown, a família que o adotou, o que torna quase obrigatório dar uma conferida no primeiro longa para se situar quanto ao universo destes simpáticos personagens. Mais uma vez sob o comando do diretor Paul King, o que ajuda a preservar as características trabalhadas anteriormente, o longa mostra o adorável urso já completamente (ou à sua maneira) adaptado a vida de Londres, na Inglaterra, alguém querido por toda a vizinhança, ou quase toda ela. Certo dia, à procura de um presente perfeito e especial para o centésimo aniversário de sua querida tia Lucy, ele se depara com um antigo e raro livro ilustrado com figuras tridimensionais de pontos turísticos da capital inglesa, algo perfeito para uma ursa que passou a vida idealizando como seria a cidade grande.
Sem dinheiro para adquirir tal mimo, Paddington decide arrumar um emprego, todavia, antes que pudesse juntar a quantia necessária, a publicação é roubada da loja de antiguidades do Sr. Gruber (Jim Broadbent) pelo dissimulado Phoenix Buchanan (Hugh Grant), um ator outrora renomado, mas agora decadente. Em sua fuga, uma confusão acaba levando o pequeno urso a ser acusado pelo crime. Na cadeia, após um estranhamento inicial com todos, Paddington acaba fazendo amizade com os prisioneiros e também cai nas graças do cozinheiro Montanha (Brendan Gleeson) que fica apaixonado por sua receita de marmelada. Enquanto isso, o Sr. e a Sra. Brown (Hugh Bonneville e Sally Hawkins), seus pais adotivos, os filhos do casal Judy (Madeleine Harris) e Jonathan (Samuel Joslin) e a Sra. Bird (Julie Walters), passam a investigar o crime para salvar o xodó da família.


O roteiro, do próprio King em parceria com Simon Farnaby, procura ser o mais fiel possível a essência da obra do escritor Michael Blond que em 1958 lançou o primeiro livro do ursinho de origem peruana, embora sua espécie não seja nativa, mas em um universo onde um animal fala, age e é tratado como um ser humano comum não há necessidade alguma de se apegar a detalhes e verossimilhanças. Criado pelos tios na floresta, Paddington acabou ficando muito amigo de um explorador inglês que por gentileza na despedida deixou um convite à família de ursos para visitarem Londres quando quisessem que seriam muito bem recebidos. O ursinho curioso levou a sério a proposta e assim foi se aventurar na cidade grande. Após os eventos mostrados no primeiro filme, o protagonista está mais a vontade, mas não menos atrapalhado. Contudo, seja trabalhando como limpador de janelas ou tentando se adaptar ao ambiente da prisão, o ursinho esbanja ternura e carisma a ponto de amolecer até os mais duros e frios corações.

Mais uma vez o uso da computação na criação visual de Paddington e em sua interação com elenco e cenários é primoroso.  É quase perceptível a maciez e o movimento de seus pelos, como em um urso de pelúcia de verdade, e sua desenvoltura em cena nos levam a embarcar sem receio a um universo fantasioso onde a solidariedade impera e palavras meigas podem transformar pessoas ranzinzas e de caráter duvidoso. A Londres retratada é em estilo tradicional, quase parada no tempo de décadas atrás, um lugar de sonhos. O apuro estético presenteia o espectador com sequências visualmente belas e elaboradas, como as passadas na cadeia que nem de longe remetem a ideia de um ambiente triste e opressor, ainda mais depois que o local é transformado praticamente em uma confeitaria, uma das boas ações do protagonista. Além do perfil do personagem já bem delineado nos livros de Blond, King também se inspirou no ator Charles Chaplin, gênio do humor cujas obras também eram dotadas de mensagens positivas e de comunhão entre as pessoas. Os mais atentos devem identificar no enredo questões relevantes sobre adoção, morte, família, resiliência, entre outras que levam à reflexão sem precisar de didatismos, basta assistir com coração e mente abertos.


O elenco traz o biscoito fino dos atores ingleses, pessoas talentosas e renomadas, o que ajuda a dar credibilidade à obra e aguçar o interesse dos adultos. Entre eles se destaca Grant, se divertindo na pele do vilão que usa e abusa de disfarces para fazer maldades e escapar ileso. De freira, mendigo ou até encarnando o famoso personagem Hamlet, o ator mostra-se desenvolto e sem medo de ser ridicularizado por tal perfil que lembra bastante ao tipo encarnado por Jim Carrey em Desventuras em Série, o Conde Olaf, que se travestia das mais diversas formas para tentar roubar uma herança. Sem perder o ritmo em momento algum, com ótimas interpretações e sabendo equilibrar com eficiência emoção, humor e aventura, Paddington 2 revela-se um filme censura livre acima da média e que escapa do estigma de que sequências inevitavelmente são inferiores aos longas originais. Esta aventura do ursinho explorando um pouco mais o cenário londrino tem o mesmo nível de qualidade de sua aventura de apresentação e só não é tão boa quanto justamente por não contar com o fator da novidade. Já conhecemos os personagens e a ambientação, mas com alguém tão curioso e atrapalhado em cena histórias para contar não faltam.

Comédia - 104 min - 2017
 
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